quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

The Kings of Boosh

Mais um ano chega ao fim, e, como sempre, não me canso de fazer textinhos que os resumem. (Gosto para manter registrado ao menos a grosso modo a maior parte do que me lembro ter acontecido.) É estranho, porque eu adoro listas, mas este ano não vou recorrer a elas devido à correria. Sim, está sendo um fim de ano estranhamente parado e corrido ao mesmo tempo (o ano foi quase todo ambíguo assim).

Como todos os anos, 2010 foi um ano de altos e baixos. Mas a melhor coisa que poderia ter me acontecido, de fato me aconteceu. Passei na Federal e sou uma estudante de jornalismo, fuck yeah! Uma pena que se eu gosto de ler, esse foi um ano meio chato no quesito leitura, porque a maioria do que li foi teoria. Odeio teoria e não seguirei carreira acadêmica de modo algum, isto é certo.

Se tratando de cinema, o ano foi recordista: foram no total 17 idas, e, no ano inteiro, em média 170 filmes vistos. Bem, se até uns dois anos atrás eu mal conseguia ver um filme inteiro sem dormir, posso considerar isso um grande acontecimento.

De shows destaco três: Los Hermanos (finalmente!), Miike Snow (porque eu nunca dancei tanto num show em toda minha vida) e Kings of Leon (em Londres, acredite, se eu não estava lá pessoalmente, minha Sis me levou com ela com ajuda do skype). Tiveram outros muito legais, e minha lista de shows cresceu um bocado, uma pena não ter crescido tanto quanto eu esperava, mas deixa estar, porque no final o saldo foi positivo.

Pensando sobre tudo o que aconteceu, há tanto o que falar sobre esse ano, mas não estou conseguindo desenvolver muito mais do que aqui está. Então não vou me prolongar, antes que se estrague.

Para concluir, os dois grandes nomes do ano foram realmente o KoL (com muito Jack Daniel's) e o Mighty Boosh (ponchos, kittens, crimps, old gregg). Influências de quem? de quem? de quem? Thank you, girls. Na verdade, foram vocês duas quem fizeram meu ano. Não vou falar muito mais do que isso, porque não consigo, e porque não precisa, né.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

E a banda diz “assim é que se faz!”

Sexta-feira, 15 de outubro. Esta era a data em que tudo reverberava coisas boas, mesmo quando a faculdade fazia questão de ser uma pedra no meio do caminho. Depois de uma aula chatérrima pela manhã, tive prova de Filosofia pela tarde. Terminada a prova (que fiz em 30 minutos) sorridente, voltei para casa, pois até o motorista do ônibus parecia estar tendo um dia bom.

No fim da tarde eu chegava ao Centro de Convenções e ao pisar no estacionamento pude ouvir uma música conhecida vindo de lá de dentro, o Los Hermanos já estava ali passando o som. Do lado de fora aproximadamente 40 pessoas formavam uma fila muito torta, me sentei no chão e fui a última da fila por apenas um minuto. A fila crescia rápido, não apenas para trás, mas para os lados também e enquanto a fila chegava a um estágio em que era difícil ver o seu fim, eu encontrava vários amigos, as pessoas já puxavam as músicas, assim tudo ficava muito mais descontraído. Mesmo com gotas de chuva ameaçando cair, a animação não cessava.

Basicamente no horário marcado, nos encontrávamos dentro do pavilhão. Posição: eu, a grade e o palco; o palco, a grade e eu. Ainda faltavam horas pro início do show, horas que demoravam a passar, e o calor começava a incomodar. Vez por outra um gordinho muito engraçado corria de um lado para o outro ali na frente da gente com uma bandeja de pizza na mão, ou um saco com garrafinhas de água de 250ml (preço: 5 reais) que vendia em instantes. O público de quase 18 mil começava a lotar o espaço e já cantava em alto e bom tom. Eram momentos de adoração à música como aquele que eu esperava presenciar a noite inteira. Mas devido à demora excessiva, o público passou do canto à vaia. Foi o que a produção do evento mereceu devido à desorganização que resultou até em problemas no som no decorrer do show.

Ainda depois de muita espera e de muito calor, foi numa vibração inexplicavelmente muito boa que a banda subiu ao palco. Nem eles mesmos pareciam acreditar na quantidade de gente que se encontrava ali. E a noite foi oficialmente aberta ao som de O Vencedor. Infelizmente, meu leque de adjetivos apreciativos não é muito vasto, e, portanto, não terei como usar um a cada música do show, mesmo porque parece regra, o show todo é uma cena só: o público inteiro cantando a todas as músicas em unissono. “Vocês são sem palavras!” foi assim que nos descreveram.

Durante o show eu tentava ligar pra quem eu havia prometido, afinal, magia como aquela tinha que ser compartilhada com quem gostaria que estivesse lá conosco. Quem eu não conseguia ligar, simplesmente me lembrava com imenso carinho. Foi assim que passaram músicas como O Vento, Morena e Sentimental. Músicas que eu adoro, mas que não esperava que fossem tocadas como Pois É, Tá Bom e O Velho e o Moço foram ótimas surpresas, e trocadilhos como em Conversa de Botas Batidas (“deixa o Barba bater/que eu cansei da nossa fuga/já não vejo motivos...”) me fizeram rir.

Quando os primeiros pedidos por Pierrot surgiram, Camelo solta um “pronto, começou...” e ri. Uma menina que estava do meu lado ainda lembrou-se da mini-campanha que o Medina promoveu no blog dele a pedidos de seu filho Vicente e gritou “toca Hollywood!”, ao ouvir ele agradeceu com um sorriso.

Houve músicas em que dancei, em que pulei, músicas em que cantei com a alma. Eles também, brincavam, dançavam, sorriam e agradeciam. Se emocionavam... e nos emocionavam. Último Romance foi a última canção, antes do bis. Amarante e Camelo saíam do palco abraçados. Nós sentíamos êxtase. “Uh, Los Hermanos! Uh, Los Hermanos!” gritava o coro enquanto a banda voltava para o palco, e nos presenteava tocando Pierrot com a introdução de Vassourinhas. Estava definido o nosso carnaval particular. No fim da música eu gritava “Quem Sabe!” e era ajudada por alguém que estava pouco mais atrás de mim. Mas foi a introdução de Deixa o Verão que a gente ouviu. E foi bom demais! Foi uma das poucas música que vi o Barba, já que o palco era muito alto, mas ele tava lá, alegrão. A última música era previsível. “A Flor” falei pra minha prima, e segundos depois as primeiras notas eram tocadas, a nossa noite de alegria e festa chegava ao fim. “Pude então enfim amar... VAI” e de gargantas cantando juntas, a cena agora passava a ser de muitos rostos felizes.

Na saída, mais desorganização por parte da produção. Por incrível que pareça, a fila da saída tava maior de que a da entrada, aliás, não tinha fila pra sair e sim uma muvuca. “Isso aqui é a Rua da Concórdia depois do Galo!” gritava um cara. De fato, parecia fim de carnaval: todo mundo acabado, mas satisfeito, e se havia alguma tristeza, era por não ter durado mais.

Minhas lembranças físicas do show foram meus joelhos roxos e a garganta rouca que perdura até agora, quatro dias depois. Lembranças materiais, 2/3 do setlist e as poucas fotos menos tremidas que consegui tirar (disponíveis no flickr). Mas a melhor das lembranças é a que tenho quando leio as reviews e textos/impressões de quem lá estava, ou vejo vídeos, aquela sensação boa de lembrar que estava lá também e que juntamente a 18 mil pessoas compartilhei minha voz pra cantar com aqueles caras as músicas que tantas vezes cantei sozinha em casa.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Dois shows em um só

Ontem, assim que desliguei a televisão depois da transmissão do show do Kings of Leon, senti uma coisa mista dentro de mim que não sei se serei capaz de transmitir através deste texto. Na verdade o texto está sendo escrito pra Má, que está em Berlim, e nem pela tevê pôde assistir. Mesmo já os tendo visto este ano em Londres (clique aqui para ler no blog dela sobre o show), eu sei como doeu nela não ter ido neste show deles aqui no Brasil. Sei, porque assim como ela, eu não aguentava mais ler os tweets do Nathan dizendo que “o Brasil esteja preparado pra mim” ou contando como já estava bêbado em São Paulo – isso à tarde!

Foi uma semana difícil de aguentar por causa do pouco contato que tive com a Má e pelo SWU. Desde ontem acompanho pela tevê o Festival, e não me doeu ver o Los Hermanos porque os verei em quatro dias, mas me dói muito saber que não terei as meninas aqui comigo nesse dia. Enfim, não vou falar sobre isso agora, o foco de hoje é a transmissão do show do Kings.

Antes de tudo, preciso de um momento desabafo pra esclarecer o meu desafeto pela Luísa. Não tem jeito, ela sempre está nos shows que eu sofro porque gostaria de ir – vide 2007, Tim Festival, Arctic Monkeys, coisa de novela mexicana. Só que dessa vez ela exagerou! Além de estar lá ousou cometer gafe dizendo que a banda é toda em família, ok, são três irmãos, ok, e um primo, o Nathan... cri, cri, cri. Fail, Luísa. Tiveram que deixar ela improvisando porque o show atrasou e eu estava cada vez mais tensa com a hora, porque “a banda só autorizou que fossem transmitidos os primeiros 45 minutos do show” como a mesma disse. E assim começou minha obsessão pelo relógio, e consequentemente a nossa guerra: quanto mais o tempo passava, mais raiva/tristeza eu sentia.

A primeira música da noite foi Crawl, a mesma do show da Má em Londres. Minha memória me levou instantaneamente até aquela tarde em que eu ouvia pelo skype o show do Hyde Park, e fiquei pensativa e só cantei no refrão. Mas em alguns momentos como em Molly’s Chambers, a segunda do setlist, eu cantava sem pudores, como se estivesse lá e ninguém pudesse destacar minha voz dentre as demais – só que meus pais estavam aqui e devem ter pensado que eu estava louca. My Party foi a terceira música e eu podia ouvir perfeitamente a Má cantar o refrão “she saw my party, she saw my party”, era minha mente me levando até Londres mais uma vez. A quarta foi Be Somebody, peguei o celular e escrevi pra Nat “be somebody euri” e ri mesmo. Antes que Mary começasse, Caleb foi até o microfone e disse “obrigado”. A cada música ele parecia se soltar mais. Acabada Mary, mais uma vez ele se dirigiu ao público “it means the world for us” e alguém traz pra ele um copinho que ele vira em um único gole, devia ser cachaça.

A próxima música era Fans, fecho os olhos, e novamente estou no Hyde Park, ouço todos gritando “oh the London scene! Cause England’s Queen makes you love the tales I breathe.” Abro os olhos, e me lembro que é tudo dentro de uma tevê, até que Caleb joga uma palheta na platéia, palheta provavelmente semelhante à que em junho bateu na Má e se perdeu na multidão de pessoas. A sétima música foi Reverly, seguida de Closer. Wow, Closer. Não preciso descrever a cena de Matt tocando guitarra com a boca né. A câmera fechava no Jared e seu baixo por segundos, e eu sorria, lembrando da Sis. Em Four Kicks Nathan batia tão forte, que eu juro, eu podia sentir meu coração batendo no mesmo ritmo.

The Bucket merece um parágrafo só pra ela. Foi quase um tapa na cara essa música. Minha garganta deu um nó, não me deixando cantar nada. Só levantei os braços e fiz cara de choro, depois pus a mão embaixo do queixo e pensava “isto não pode estar acontecendo”. Dessa vez eu sabia que não demorava muito até que a transmissão terminasse porque foi assim no show de Londres: duas músicas depois dela o celular da Má descarregou e a partir de então eu e a Nat só imaginávamos o que se passava por lá.

“Do you guys mind if I have a drink?” Caleb mais uma vez interagia. Pra minha alegria, não foram transmitidas apenas duas músicas como eu esperava, mas sim três! As três últimas músicas da minha noite foram Notion – a melhor do Only by the Night –, Radioactive – o melhor solo do Come Around Sundown – e Sex on Fire – sinto vergonha da música, mas não tem como não achar arrepiante ver todo mundo ali cantando e pulando de braços abertos.

Minha atenção estava dividida entre a tevê e o grande vilão da noite, o relógio. Haviam passados os 45 minutos exigidos pela banda, e então resolvi desencanar de vez do relógio, deviam ter esquecido que eram só 45 minutos. Parece ironia, mas foi sério, foi só pensar isso que a câmera começou a se afastar do palco, até que outra fecha na Luísa, e é o que parecia ser o fim. Enquanto a Luísa falava eu me congratulava por não ter chorado, e tentava ouvir o que o Caleb falava para o público, até que ouvi a introdução da música que eles iam prosseguir tocando, “she said call me now baby, I’d come running”. On Call. Não deu pra segurar as três ou quatro lágrimas que jorraram dos meus olhos.

Acabou mesmo. Entrei no meu quarto com uma sensação estranha de ter vivido um déjà vu de 50 minutos. Foram dois shows diferentes, eu sei, mas nada tirava da minha cabeça que os dois tinham sido uma coisa só. Piii-piii, meu celular apita, mensagem da Nat, porque mais uma vez ficamos só imaginando como foi o resto do show.

Edit: Um postscript. Alguns dias depois, lendo as críticas, fiquei sabendo do que não deu pra perceber enquanto eu assistia pela televisão (primeiro por causa do meu estado emocional, segundo porque, ora, era na televisão). Noventa porcento daquele público não merecia estar ali, e depois a banda levou a culpa de ter feito um show 'morno'. Ah! O que escrevi aqui mostra que esse show poderia ter sido tão bom quanto o do Hyde Park, e - eu vou ser egoísta - ainda bem que não foi, assim a Má - e consequentemente eu e a Nat, afinal de alguma forma nós estávamos juntas ali - não perdeu muita coisa. Então, só pra corrigir, o show do SWU apenas me remeteu ao do Hyde Park, porém, este último foi, para nós, único.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

"Agora sim!"

Há um ano, no dia 7 de fevereiro de 2009, esta pessoa que vos escreve se encontrava vivendo o melhor dia de sua vida desde então. Fazia um lindo dia de sol, mas eu não estava ligando para o sol, meu cérebro só era capaz de processar uma frase – “É hoje”. Não senti fome, não senti sede, queria apenas que o dia corresse rápido, para que chegasse a noite, e, com ela, chegasse a minha Joy.

Às 16 horas e alguns minutos eu já me encontrava no Teatro da UFPE, com minha prima, Paula, o namorado dela e meu coração aos pulos. Faltavam cinco horas pro show começar. Durante esse tempo pensei se já estavam lá, mas era muito cedo, então concluí que ainda não estavam e ansiei pela chegada deles, imaginei – mais uma vez – como seria vê-los chegar, conversar com eles e dizer tudo que eu tinha planejado. A cada van que passava me batia um nervosismo imenso, que eu tentava controlar de algum jeito e, não sei como, conseguia. Chegou uma branca, entrou no teatro. Não senti nervosismo e tentei chegar mais perto. Até que vem até mim um segurança e eis o nosso diálogo: (Letra S equivale ao segurança, T equivale a mim).

S: Ei, você tá aqui por causa do show?

T: É, por causa do show sim!

S: Mas o show é às 21 horas. De qualquer modo, não pode assistir a passagem de som, nem ir atrás dos artistas – e apontou pra onde a van branca havia entrado.

T: Ok, tudo bem, só vou ficar na fila, quietinha, esperando – fila essa que ainda não existia.

Sentei no chão, colada na porta de vidro do teatro, e passou a moça da bilheteria, rindo porque estávamos ali tão cedo, já pra ver o show, enquanto pessoas ainda iam comprar o ingresso. Era aproximadamente 18 horas quando começou a chegar mais gente, inclusive vários amigos meus, conversamos, rimos e ouvimos música (num quase aquecimento pro show).

Às 20 horas chegou a grande massa de fãs. A Joy deve ter chegado pouco tempo antes, porque alguns minutos depois das 20 eles ainda passavam o som. Tudo que pude fazer foi tentar identificar quais músicas eles estavam ensaiando e brechar pela porta interna do teatro procurando por eles. Vi o Fabrizio. E soltei um grito. Caí no chão morrendo de vergonha, me escondendo, rezando pra que ninguém tivesse visto quem tinha gritado. Fiquei sentada um certo tempo no chão e tomei coragem de me levantar outra vez. Continuei procurando-os pelas brechas das portas e lembro que vi a Binki, o Rodrigo, o Todd, o Matt sentado e o Fab outra vez, ou seja, todos.

Finalmente abriram os portões e foi uma grande correria pra chegar nos assentos. Tínhamos que ficarmos sentados nos assentos. Eu não sabia disso, fui pra frente do palco. Olhei pro palco com todos aqueles instrumentos e reconhecia o que era de cada um. Fiquei tão nervosa que chamei minha amiga Cristiana de Fabiana, pra vocês terem noção do que esses momentos fazem com um cérebro. Segundos depois passou o segurança e disse que não podia ficar ali, fui à busca do assento mais próximo. Coincidentemente, sentei perto de duas amigas. Alguns minutos mais se passaram e entra uma das produtoras, agradecendo, não lembro o que ela falou exatamente, mas foi quando eu entendi que depois de tanta esperança, tanto choro, tantas outras coisas que só eu sei, eu estava ali, nada e ninguém me impediria de vê-los, confesso que chorei quietinha duas ou três lágrimas, mas chorei.

Ao vê-los entrando, levantei do assento e corri pra frente do palco outra vez, foi aquela gritaria ao redor, eu não me lembro de ter gritado, lembro que tremi, tremi muito e comecei a cantar PLAY THE PART. Nas duas músicas seguintes, o Rodrigo parecia ter me achado no meio das pessoas. Eu estava tirando fotos, de todos eles, quando mirei no Rodrigo, ele estava sorrindo pra mim e até capturei esse momento. As duas músicas tinham sido THE NEXT TIME AROUND e HOW TO HANG A WARHOL. Acabou esta música. Aconteceu então que o Rodrigo começou a conversar com um alguém da platéia, e essa conversa me fez pensar que eu havia adentrado o mundo onírico. (Letra R equivale ao Rodrigo, F ao Fabrizio).

R: Pô, essa camisa é a melhor camisa que tem, cara! – baixinho no bootleg dá pra ouvir um “lembra?”, presumo que eles já tinham visto minha foto no myspace.

F: That’s awesome!

R: É uma pena que vocês não podem ver, mas ela fez uma camisa da banda que é muito boa, cara. – risinho. (...) Dá uma olhada aí! (...) Ó, quem quiser comprar fala com ela aí!

F: Quer dançar aqui conosco?

Explico-vos. Ele olhava pra mim. Sim, olhava. E estava a falar comigo. Eu estava vestindo a tal camisa – escrito Little Joy e um smiley no lugar da letra O. Olhei pra camisa. Levantei os olhos pra ele outra vez e sorri também, pois ele sorria. Então olhei pro Fabrizio. Este se dirigia até onde eu estava. Estendeu a mão e me puxou pro palco. Eu não sabia o que dizer, o que fazer, como agir em tal situação, pois nunca imaginei que aconteceria. Me senti anestesiada, é isso.

O Fab me posicionou entre ele e o Rodrigo. Eu estava no mesmo metro quadrado daquelas pessoas que tanto admiro. Fab levantou meus braços pra mostrar a camiseta e em seguida o Amarante apontou pro meu pingente, abrindo um sorrisão que só ele sabe dar, mostrando também o pingente dele, que é parecido. Eles iam começar a tocar, e foi quando o Fab perguntou se eu queria dançar. De verdade, parecia mais um de meus sonhos malucos. Não sei o que respondi, ou em que língua respondi – me lembro que eu não sabia se falava inglês ou português, e falava inglês com quem eu devia falar português e vice-versa –, acho que inventei uma língua na hora, porque o Fab pareceu não entender, mas ainda assim, sorria pra mim, acho que ele compreendeu que eu estava muito nervosa, emocionada, surpresa, sem reação, em qualquer um desses estados, ou em todos juntos. Antes ainda da música começar, me virei pro Matt e gritei “Matt, you’re awesome!”. Enfim, começou a tocar NO ONE’S BETTER SAKE. Durante a música, eu olhava pros meus amigos e sorria muito da reação deles, tinha mil câmeras apontadas pra mim e nesse momento eu fiquei com vergonha, mas pensei rapidamente: aproveite, divirta-se, dificilmente isso acontecerá outra vez, esqueça que tem mil pessoas te vendo.

Olhei pra Binki, que estava sentada, e vi que ela sorria também, muito querida, queria ir lá, abraçá-la, mas me contive e soltei um beijo no ar pra ela e ela soltou outro pra mim. Muito querida! Durante toda a música eu estava como no começo, sem reação, mexia os pés pra um lado e pro outro, fingindo dançar, olhando pra eles, acho que nem pisquei. Eles devem ter percebido que eu não sabia o que fazer, até que Fab me puxou pela mão pra fazer backing no microfone dele. Segundos depois, Amarante se abaixava pra que eu cantasse com ele também. Aproveitei uma hora que o Fab estava arrumando uns equipamentos e fui pro lado da Binki, que ao me ver ali perto, acho que ficou sem jeito, mas abriu um sorriso muito meigo. Voltei pro meu lugarzinho entre os meninos e fiz backing mais uma vez, dessa vez com Fab e Todd, o último backing. Acabou a música, ouvi um “Agora sim!” do Rodrigo. Abracei todos. Primeiro o Fabrizio, depois o Rodrigo, que me agradeceu e eu respondi “Nossa! Eu que agradeço”, em seguida a Binki, e quando tava voltando pra descer do palco, gesticulei um tchauzinho pro Matt, que se esticou todo por trás da bateria pra apertar minha mão, já quando passei pelo Todd, foi outro tchauzinho e disse ainda um “hi, Todd” que ele respondeu com outro aceno de mão e um sorriso muito simpático. Os abraços duraram aproximadamente três segundos cada, no máximo, mas pra mim foram eternos. Não falei com o Noah porque ele estava mais no fundo do palco, mas saiba Noah, que eu gosto muito de você, gostaria ter dado no mínimo um oi como com o Todd.

Quando desci, abracei todo mundo lá perto de mim e ainda não estava acreditando. No resto do show eu estava inconsciente – muito feliz, claro –, ficava tirando fotos deles e cantando as músicas. Mas pra você ter uma noção, a música seguinte foi UNATTAINABLE, e eu não conseguia lembrar que eles tinham tocado ela. Olhe que eu amo essa música, e era uma de minhas expectativas vê-la ao vivo.

As músicas seguintes foram SHOULDER TO SHOULDER e WITH STRANGERS, a qual antes de ser começada a tocar, Fab disse que estava se sentindo em casa, mas que estava triste de aquele ser o último show, e comentou que se quisessem dançar no palco, podiam, mas depois de algumas músicas. O público, é claro, pirou. Durante a música, Cris levantou a camisa que tinha “I [coração] Strokes” e acho que o Matt foi o primeiro a ver, ele ficou rindo e mostrou pro Fab que riu também e depois que a música acabou, Amarante falou “Meu Deus do céu!” e Fabrizio “I Love The Strokes too” e Rodrigo “E eu!”.

O show foi seguindo assim, a próxima música era KEEP ME IN MIND. Todos eles estavam bem felizes, todos brincando, mas notei que estavam cansados sim, até que no fim da música aconteceu outra conversação entre eles.

F: Alguém tem uma piada aí pra contar?

R: Tamos um pouco encabulados hoje, né?

F: Eu não sei o que isso quer dizer, cara!

R: Tu não sabe o que é encabulado?

F: Não sei, não.

R: Encabulado é quando tu não consegue dizer nada, sem falar, encabulado.

F: É porque eu to tão emocionado, cara!

R: Esse cara fala pelos cotovelos aí hoje tá assim, ó... Aí você me quebra. Eu num falo nada mesmo.

Eles conversaram algo mais entre eles e Fab fez uma dancinha engraçada, Rodrigo ficou falando “Ó que engraçado...” e antes de começar a cantar, a Bin disse que precisava de tradutores enquanto os meninos estivessem conversando entre eles.
Chegou a hora de WALKING BACK TO HAPPINESS, cover da Helen Shapiro. Binki começou “Funny, but it’s true…” e ao perceber que se tratava do cover, continuei “What loneliness can dooo…” ao mesmo tempo dela e todo público aplaudiu a bela voz da nossa linda cantora. Ela riu enquanto continuou “Since I’ve been away... but, I, love, you, more, each, day…”. Tenham certeza, o woopah oh yeah yeah grudou na minha mente por meses, ainda hoje está grudado. A seguinte foi outro cover, dos Kinks, cantada pelo Fabrizio, THIS TIME TOMORROW. Linda. Ao fim da música ele pediu desculpas pela voz, mas foi lindo demais, Fab.

Rodrigo então chegou ao microfone e disse “Vamos tocar uma música nova então, beleza?” eu já sabia do que se tratava e berrei “NEW SONG!” Ele ainda foi explicar que o disco é curto e que não tinha muitas músicas... Deixo aqui registrado que foi desnecessária essa explicação, meu caro, Rod. Disco pequeno, mas maravilhoso. Poucas músicas, mas as mais lindas. Adianto pra vocês que o show também foi curtinho, mas o melhor da minha vida. É! Continuemos com o show, porque a melhor música ao vivo está por vir.

Antes de começá-la algum a-hole falou alguma besteira e ouviu do Rodrigo. Uns me disseram que o babacão gritou por Strokes ou Los Hermanos, outros disseram que pediram pro Fabrizio apagar o cigarro, que ele havia acabado de acender, não sei, creio que nunca saberei o que aconteceu de verdade, eu estava muito focada no palco e apenas no palco, as canções e eles. Bem, o Fab então falou “But we’re Little Joy!”, e Rodrigo completou “Veio pro show errado, bicho. Num te avisaram não?” Enfim, passado esse momento começou a minha favorita. DON’T WATCH ME DANCING, suave no disco, e ao vivo, além do antigo adjetivo, intensa. Incrível. Sincronia perfeita.

Eles saíram do palco, mas eu sabia que voltariam pra um bis. Fizeram em todos os shows, por que não fariam nesse? E faltavam músicas ainda. Lembrei rapidamente que enquanto estava lá encima, deu pra ver o setlist e havia um traço separando duas músicas das outras. A música depois do traço era EVAPORAR, a outra eu não me lembrava por maior que fosse meu esforço pra tentar lembrar. As pessoas perguntavam “Acabou mesmo?” e eu respondia “Não, ainda falta Evaporar” outra pessoa me chamou e me disse “Puxa aí alguma música deles”, mas eu estava tão sem voz que foi muito baixo, e minha tentativa em vão. Ou não. Começamos a gritar então por eles “Little Joy! Little Joy! Little Joy!” e algum tempo depois entrou o Amarante sozinho. O palco se iluminava de uma luz azul que transpassava a serenidade toda daquele momento singular do show. Ele afinou um pouco as cordas e começou. Eu estava vidrada. Devia estar com uma cara muito abobada. Na parte “Corre o que custar... aaahhh” ele olhou tão fixo e sorriu que foi impossível não responder àquele sorriso. Sorri também. Outra vez. Isso aconteceu várias vezes durante o show quando ele me via cantando, mas essa hora é a que eu mais me lembro.

Entraram todos no palco por fim, e era chegada a hora. A última música. Fabrizio não se esqueceu, convidou todos a subir ao palco. Creio que não foi como ele esperava. As pessoas não se comportavam, pareciam querer tirar pedaços deles. Vendo os vídeos, sempre tenho uma sensação estranha que incomoda. Mesmo antes de subir, bati a perna no batente do palco e me machuquei – só um arranhão –, mas me levantei imediatamente pra não ser pisoteada. Os seguranças tiveram que entrar em ação pra evitar algum acidente e a música começou. Fabrizio cantou boa parte de BRAND NEW START, creio que o Rodrigo estava impossibilitado, não consegui vê-lo, não consegui ver a Binki, eu só podia ver o Fab, Todd e Matt muito no fundo. Tinha realmente muita gente lá encima e o empurra-empurra tava muito grande. Até que certa hora ele, Rodrigo, gritou “Voltei!” e começou a cantar a partir do refrão. No refrão, todos pularam e vi a hora do palco desabar, o que felizmente não aconteceu. Foram muitas as bizarrices que me contaram sobre o incidente da “invasão de palco” que ficou tão famosa pelo Brasil a fora posteriormente. A mais bizarra que ouvi dizer, é que teve um doido que aproveitou a confusão e tirou as roupas – eu não vi, mas não duvido que tenha acontecido de tão insano que foi aquilo tudo. Coisa de brasileiro, afinal, acabou sendo um carnaval particular do Little Joy – para alguns –, como os jornais do dia 9 noticiaram. Repito, creio que não foi como eles esperavam e que eles mesmos ficaram assustados com o que aconteceu. Pediram até desculpas pela bagunça, mas a bagunça não foi deles, e sim dos que não souberam se divertir com sensatez.

Acabou. Não os vi sair direito. Ainda tinham algumas pessoas no palco, e fui uma das últimas a descer, estava meio paralizada – ok, vou confessar, eu tenho uma certa fobia de multidões e empurra-empurra, foi loucura da minha parte ter subido, mas só pensei nas conseqüências depois de o ter feito, enfim – e quando olhei ao redor notei que as pessoas haviam pego alguns objetos deles – palheta, baqueta, toalha, setlist. Lembrei tarde demais. Ou nem tão tarde, uma vez que ainda consegui pegar a lata de cerveja do Fab e um pedacinho bastante pisoteado do setlist, que estava errado ainda por cima. Finalmente consegui descer e conversei com algumas pessoas que ainda estavam por lá, abracei os amigos que eu ainda não tinha abraçado e encontrei novamente Paula que eu havia perdido de vista quando todo mundo subiu no palco.

Eu não queria sair dali. Eu precisava ir atrás deles, eu queria falar direito com eles, iniciei então as tentativas de entrar no camarim. Falei com a produtora, não deixou. Falei com o segurança, não deixou. Estavam desligando as luzes do teatro pra nos mandar ir embora, mas eu mantive minhas tentativas de encontrá-los. Persisti no segurança. “Moço, você me viu aqui hoje de tarde, tô aqui desde as 16 horas, cheguei cedo. Preciso muito falar com eles. Subi até no palco, eles me chamaram no palco, por favor!” e insisti tanto, tanto, tanto que ele me disse que se eu fosse pra tal saída do teatro, eu conseguiria encontrá-los, acrescentou que eu fosse discreta e pediu segredo. Imagino que ele percebeu como era tamanha minha vontade de vê-los e que eu estava sendo chatinha, mas educada e o coração dele amoleceu. Muito obrigada, caro segurança.

Lá fui eu, e quando lá cheguei me deparei com uma fila de pessoas, aproximadamente 15, que foi aumentando, aumentando, aumentando... Ao ver tanta gente pensei em duas hipóteses, ou o segurança fazia jogo duro com todo mundo, mas depois contava a mesma história a todos, ou as pessoas foram bastante inteligentes e pressuporam que eles sairiam por aquele lugar. Fiquei até com medo que eles não saíssem por ali mesmo e que o segurança tivesse me enganado. Mas depois vi que tinha gente chamando mais gente e foi assim que todos descobriram. Desculpa se pensei mal de ti, amigo segurança.

Finalmente eles saíram e mais uma vez se assustaram com a quantidade de gente que lá tinha. O primeiro que vi foi o Matt, que passou depressa, com uma garrafa de uísque na mão, seguido do Noah e do Todd, que enquanto passava pelas pessoas, eu consegui parar e pedir uma foto. Vi a Binki e vi um amigo tirando uma foto já bem perto da van, mas não consegui alcançá-la. Fabrizio estava no outro extremo e até tentei chegar perto do Amarante. A van se fechou e eles se foram.

Paula teve uma discussão com um cara que estava sendo desagradável, coisa rápida. E eu ainda tive um probleminha com meu pai pra vir me buscar, por causa da hora, e porque estavam chegando muitas mensagens no meu celular, que eu tinha esquecido em casa. Expliquei tudo que aconteceu, ficou tudo ok. Contei tudo pra minha mãe também, que não respondeu uma só palavra. Chegando em casa, notei como havia passado rápido. É assim sempre, o que é bom dura pouco. Mas tomo Drummond como base e concordo plenamente com ele quando diz que o que eternifica as situações não é o tempo que duram, mas a intensidade com que acontecem.

Eu estava esgotada. Tomei muita água, tomei banho, escovei os dentes com muita preguiça e senti que minha força estava se indo. No dia inteiro eu só havia me alimentado de pipoca e uma quantidade pouca de arroz com frango, porque foi tudo que o meu estômago aceitara. Agora chegava a fraqueza e o sono. Mesmo que eu estivesse com medo de por a cabeça no travesseiro e acordar de um sonho, eu dormi. Se tivesse sido só um sonho, já teria valido muito a pena. Não foi sonho. Mas passei o resto da semana e muito tempo ainda depois do show sonhando com eles. E eu acordava feliz. Como ainda acordo quando tenho parecidos sonhos.

PS 1. Em julho de 2009 fui contactada pelos meus queridos pra que a camiseta do smiley que eu vestia no show fosse vendida oficialmente na tour pelos EUA.

PS 2. Levei quatro dias pra reescrever esse texto. Com mais detalhes e mais organizado, comecei a escrever no dia 7 de fevereiro de 2010, quando completou exatamente um ano do show. Hoje, 10 de fevereiro de 2010, finalmente o termino. Transformei as duas páginas e meia do antigo texto em cinco páginas e meia deste agora. Tudo de fato aconteceu como vos conto e vos digo que reescrevê-lo foi trabalhoso, mas ao mesmo tempo prazeroso. Foi como reviver esta maravilhosa experiência.

Um último PS. Hoje sei porque minha mãe não me disse palavra alguma quando lhe contei o que acontecera no show. Ela perdeu o maior argumento dela contra meu amor por específicas bandas e por querer tanto ir nos shows. O argumento era “você gosta tanto deles e eles nem sabem que você existe”, e isso como vocês percebem, já não é mais tão verdade assim.