quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O que é, o que é?

O que é um pontinho preto na imensidão branca?

...
...
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Eu.

Eu sou este pontinho inútil e desgraçado que borra o perfeito e atrapalha a harmonia. Miúdo, quase não percebido, mas estou lá. E por mais que queira, não sei como sair. Pois pontos não têm pernas, nem mãos. Pontos não se movem. Pontos não respiram. Eles são apenas pontos. Estáticos. É preciso que alguém os perceba para que a partir deles, evolua um desenho, ou uma pintura, ou uma música. Ou até mesmo para que sejam apagados.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Fim

Depois de uma longa viagem pelas estradas alagadas de Recife finalmente estou em casa. Chego do cinema, acabo de ver o último filme da saga Harry Potter. Aqui vão as minhas impressões sobre esta experiência fabulosa que acabo de viver nas últimas quase 3 horas.

Toda experiência merece ser contada do começo, portanto devo contar ao menos uma breve introdução de como me apaixonei pela saga. Sempre ouvi falar da história, mas nunca senti interesse, até que conheci na escola uma garota meio fanática. Certo dia fui à casa desta amiga e assistimos lá matade da Câmara Secreta, este pouco foi suficiente para me encantar. Eu tinha 11 anos, e estava próximo da estréia do Prisioneiro de Azkaban. Desde então estive presente em toda santa estréia, e li todo santo livro.

Hoje, a fila de entrada era, obviamente, digna de uma estréia de Harry Potter. Estava lotada, por pouco fechando uma volta de 360º no cinema, e, apesar da hora, 21h, havia um misto de faixa etária – dos mais adultos passando pelos jovens e chegando às crianças –, não restando dúvidas de que a saga uniu gerações.

Podia sentir meu coração acelerar um pouco quando pensava que era a última vez que aquilo estava acontecendo, mas quando abriram a sala 3 do cinema não consegui pensar muito, ainda bem, foi rápido o meio tempo entre sentar na poltrona e o início do filme.

Achei que ia chorar um rio Nilo inteiro, até preparei meu pai, pedindo que não sorrisse de mim. Se eu chorei? Chorei. Chorei três únicas vezes, e todas as vezes devido a mortes de personagens, sou uma eterna manteiga derretida. Mas a maior parte do tempo sorri, pois cada minutinho dentro daquela sala de cinema parecia um motivo para comemorar. E eu não era a única, podia ouvir muitos narizes fungando, mas também ouvi muitos sorrisos, inclusive aplausos, que eu não ouso recriminar.

É pouco criativo dizer que foram horas mágicas, mas deve ser a palavra que melhor define agora – ou é tudo que posso pensar no momento: magia. Ao fim do filme havia apenas um sorriso de satisfação em meu rosto, e, assim como meu pai, fiquei espantada com as poucas lágrimas derramadas, mas acredito que foi o melhor que poderia ter acontecido.

Talvez o mais estranho foi o sentimento ao caminhar em direção ao estacionamento do shopping que estava praticamente vazio. Acabou. “Como vai ser agora sem estréias de filmes do Harry para esperar, pai?” foi tudo o que perguntei. “Lembra do que foi dito no filme? A vida continua. Tu viu no fim do filme? Não acabou, a história continua.” Sorri mais uma vez e fiquei em silêncio enquanto a gente caminhava, “é verdade” pensei. “Um grande filme, não foi?” ele me perguntou, e foi respondendo logo em seguida “é o melhor na minha opinião.”

Provavelmente concordo com meu pai. Provavelmente este foi o meu filme favorito dentre os oito. Incrível como a JK arquitetou o fim da trama, muito boa direção do Yates, e os atores estavam inteiramente no clima do filme. Por fim, a aura do filme se dá por completa com a mobilização dos devotos.

Uma tromba d’água caia enquanto voltávamos para casa. Foi neste clima soturno e aconchegante que se deu por encerrada mais uma fase de minha vida.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

"One by one"

Desde que conheci os Strokes, quando tinha de 13 pra 14 anos, pouco pude acompanhar deles. Primeiro porque eu não tinha internet, e segundo porque quando consegui realizar o sonho da internet própria eles anunciaram que precisavam de um tempo. Quanto tempo? Quase cinco anos. Durante esse “tempo” alguns devem ter desistido da banda, mas eu, ao contrário, resolvi investir nela, fazendo uso desse tempo para conhecê-los melhor e conhecer quem os conhecia – outros fãs –, e graças a essas pessoas os anos se passaram com um tom mais suportável. Graças aos projetos solo dos integrantes também, e é engraçado falar sobre essas novas bandas que se formaram durante o hiato dos Strokes, porque eu tinha medo que a banda em si nunca mais voltasse, e que as novas bandas deles fossem o motivo disso.

Começou com o Albert Hammond Jr, nos primeiros anos sem Strokes ele foi toda a música atual (e por atual eu digo recém lançado) que eu tinha e estas músicas dele eram as meninas dos meus olhos, eu queria ouvi-las todos os dias, todas as horas, em todo instante. Ainda hoje gosto de fazer isso: dormir aconchegantemente ao som de Cartoon Music for Superheroes e acordar alegre ouvindo Holiday. O segundo disco do Albert foi mais pesado, eu estava no ensino médio nessa época, e elas eram o tipo de música que eu gostava de ouvir a tarde inteira, tardes vazias, que graças ao Albert eu consegui preencher com dignidade.

Finalmente em 2008 eu tinha outro novo prazerzinho pra me satisfazer. Só em pensar o nome da banda sinto cócegas cérebro e a única vontade que me dá é vontade de sorrir – smiles from ear to ear. Fabrizio foi um dois pais do Little Joy, e o Little Joy foi uma das coisas mais mágicas que me aconteceu. Fab, Binki e Rodrigo não devem imaginar metade disso, mas com eles eu aprendi tantas coisas que não daria para listar aqui, ainda seria injusto listá-las, porque não haveria como incluir os tantos sentimentos bonitos que ainda não conhecia, sentimentos que de tão bonitos, não possuem sequer um nome.

No ano seguinte, quando eu achava que não tinha mais espaço em mim para outra banda nova ou projeto solo, eis que o Nikolai aparece com Nickel Eye, responsável por muitos insights. Cada vez que ouço o disco, descubro uma música que fala diretamente para mim, se encaixando perfeitamente com o momento que estou vivendo. Particularmente, acho isso genial. Se há uma palavra que descreve Nickel Eye em sua totalidade, essa palavra é, de fato, “genial”. Time of the Assassins foi o primeiro disco em vinil que eu comprei com meu próprio dinheiro. Sim, eu fiz questão que ele fosse o primeiro.

Traçado todo esse histórico de projetos solo, estamos feitos, e tudo estava pronto para a volta dos Strokes, certo? Não. Porque nem tudo estava pronto. A maior surpresa que tive durante o hiato dos Strokes foi esta: um disco assinado unicamente por Julian Casablancas. Dentre todos os discos lançados nessa época de pausa, foi justamente o do Julian, letrista dos Strokes, que me causou estranhamento. Não me desciam os sintetizadores. Para o estranhamento se esvair, percebi que precisava focar naquilo que eu sei que o Julian é mestre: suas letras. Dito e feito, o Jules nunca vai decepcionar com as letras dele. Foi entendendo as letras que passei a entender as melodias, e entendi até os sintetizadores. Ouvir as músicas desse disco estão no top 5 de vontades que vêm do nada. Por falar em top 5, não me peçam, por favor, nunca, jamais para classificar os projetos solo por ordem de afetividade. Eu sou realmente incapaz de fazer isso.

E agora, tudo certo pros Strokes voltarem de uma vez? Não. Nick Valensi, como todos nós, fãs, ficou bravo com seus companheiros de banda, resolveu de última hora realizar um projeto só seu também, ele organizou suas fotografias para um livro... haha, brincadeira.

When It Started

Tenho me sentido mal nos últimos dias, e acho que preciso escrever sobre os Strokes, preciso me lembrar o significado que eles têm pra mim. Por mais que textos assim sejam super melosos e desnecessários, está sendo necessário hoje. Pois preciso me convencer de que eu devo sorrir cada vez que olhar pros ingressos que tenho em mãos, porque esperei tanto tento pra isso acontecer, então por favor, não julguem como egoísmo se eu tento aproveitar cada mínima empolgação que esses recentes acontecimentos vêm me proporcionando.

Hoje em dia todo mundo que aprecia música tem aquela banda querida. Gostamos de várias outras bandas, mas aquela é a que gostamos de acompanhar as novidades, que ficamos felizes quando alguém elogia e tomamos as dores quando falam mal. Ela tem aquelas músicas que te fazem chorar quando você está sensível e que são as únicas capazes de te fazer bem quando você sente que tudo ao seu redor está se despedaçando. No meu caso, essa banda foi especial porque foi a primeira banda que fez com que eu olhasse para mim mesma e percebesse quem eu queria realmente ser, a banda que desde a primeira vez que ouvi, pensei “hey, isso é bom, isso faz sentido pra mim.”

Na verdade, The Strokes foi uma das primeiras coisas a fazer sentido na minha vida. Não consigo me lembrar de algo que gostei antes deles por simplesmente ter gostado, sempre havia aquilo de “gosto porque acham bonitinho que eu goste; gosto porque é fácil gostar; gosto porque todo mundo gosta.” Fui inconscientemente agindo assim até a época em que descobri os Strokes – descobrimento ainda guiado pelas influências que as pessoas ao meu redor exerciam sobre mim, já que os descobri através da pseudo-obsessão que eu tinha pelo ator de Harry Potter, mas no fim das contas, foi assim que acabei me livrando dessa vida, vamos assim dizer, equivocada.

De 2005 até hoje, as minhas – e só minhas – escolhas me garantiram novos confortos, novas alegrias, novos amigos, novas tristezas, novas frustrações, novos sentimentos novos (redundante, mas é exatamente isso), e a maioria dessas escolhas tiveram influência direta daquela primeira, responsável por me fazer decidir me livrar dos equívocos e começar a ser a condutora efetiva da minha própria vida; eu decidi que queria tentar viver tendo sempre boas músicas comigo, músicas tão grandiosas que conseguem significar algo maior de que elas mesmas.

Sinto muito pelos que não entenderam o que eu quis dizer nos parágrafos anteriores (mas não os condeno, caso contrário estaria condenando meus próprios pais). Realmente não há nada explicado nas palavras acima, mas os sentimentos são assim: se tentarmos explicá-los mil vezes, iremos falhar vergonhosamente nas mil tentativas. Então contar os fatos como eles são é minha única ferramenta para tentar reproduzir esse sentimento nos outros, e o sentimento que tenho pelos Strokes, que é perfeitamente compreensível para mim, tenho certeza, é também compreendido por quem gosta de verdade de alguma banda, seja lá qual for o motivo, desde que seja.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Swedish

Finos raios de sol penetravam a janela do quarto e aqueciam suas costas nuas. Repousava sobre a cama e dormia profundamente enquanto tinha seus longos cabelos acariciados por um par de mãos que antes lhe tocavam as maçãs do rosto. Naquele momento sonhava com flores brotando dentre os seus escuros fios de cabelo. Um beijo no rosto foi suficiente para despertá-la. Nunca abria os olhos imediatamente. Gostava daquele sol que lhe tocava as costas, e agora uma daquelas mãos também as tocavam. Com o polegar ele percorreu toda aquela extensão aveludada, até o momento em que ela se virou de frente, já de olhos abertos, fitou aqueles olhos que desde as primeiras horas da manhã a observava dormir, e deu um sorriso suave que não permitiam os dentes serem vistos. Ele também sorriu com o canto da boca e, inclinando seu rosto até o dela, beijou-lhe a testa, para por fim levantar-se da cama onde estivera sentado durante todos aqueles minutos, pegar suas chaves e sair pela porta.

“Éramos apenas nós dois, debaixo de uma árvore. Eu vestia aquele meu vestido florido favorito e você usava sua jaqueta de couro preta, igual ao dia em que nos encontramos pela primeira vez. Estávamos sentados no chão morno, de mãos dadas, dedos entrelaçados. Não estava nem muito frio, nem muito quente, como nós adoramos. Uma dúzia de flores das mais diversas cores nos rodeava, e mesmo pisoteadas eu as achava bonitas. Havia algumas menores em meus cabelos, e você parecia tentar soltá-las mesmo quando eu falava que não precisava se preocupar com elas, pois eu gostava. Eu brincava com seus dedos quando uma lágrima caiu de meu olho esquerdo. Você a enxugou beijando-me a pálpebra, e comentou algo sobre minhas lágrimas serem doces. Eu sorri. Você sorriu. Com a ponta do indicador eu fazia movimentos circulares em seu pulso, enquanto você desistia das flores no meu cabelo e colocava uma mecha atrás da minha orelha. Segurou meu rosto com as duas mãos, mas não me olhou nos olhos, nem disse palavra alguma, apenas desviava os olhos por todo meu rosto, com exceção dos olhos. Eu acompanhava o movimento de teus olhos, e sabia perfeitamente o que se passava em tua mente. Você então desceu as mãos até meus ombros e me abraçou com tanta ternura que eu podia sentir tua respiração oscilar e o teu corpo tremia. Eu encostei minha cabeça em teu ombro e assim permanecemos por muito tempo, até que a noite caiu, tu tinhas que ir embora. E mais uma vez senti um par de lágrimas escorrerem pelo meu rosto, mas desta vez tu as enxugava com as pontas de teus dedos, e em seguida tocavas o teu tórax. Tu sabias que não íamos nos ver nunca mais e querias guardar minhas doces lágrimas contigo. Encostei-me na árvore de onde as flores do chão pertenciam, e te olhei pela última vez, enquanto tu te afastavas sem olhar para trás, sem acenar um último adeus. Acho que entendes o significado deste sonho. Levo comigo a certeza de que me amastes, do teu jeito, não importa por quanto tempo, mas me amastes. Então fica também com a certeza de que eu te amei.”

O apartamento estava em silêncio quando voltara. Tudo se encontrava do mesmo jeito de antes: na cozinha as duas xícaras de chá usadas no café da manhã estavam sobre mesa, na sala as almofadas em que na noite anterior sentaram para assistir filme estavam no mesmo lugar e no quarto os lençóis permaneciam bagunçados, mas no travesseiro onde mais cedo aqueles negros cabelos se espalhavam, agora só restava o bilhete que ela deixou. Depois der ler este último bilhete, ele dobrou novamente o papel e de dentro do armário tirou uma caixa repleta de bilhetes semelhantes. Era costume ela escrever-lhe seus sonhos e deixá-los sobre travesseiro. Mas aquele era o último.

Ela não tinha amigos. Havia se mudado para Estocolmo três meses atrás, e Carl foi tudo que ela precisou durante aquele tempo. As únicas amizades que ela tinha eram os amigos dele, mas não seria sensato recorrer a algum deles. Foi para um hotel. Não pretendia permanecer muito tempo mais na Suécia.

Abriu uma maleta e pôs-se a escrever para sua irmã. Avisou que ia voltar para casa em poucas semanas. Ainda amava o Carl, e este era o problema, o amava demais. Amor é um sentimento dúbio que significa tanto cultivar quanto matar. Não lhe fazia bem. Não podia amar sabendo que um dia o que agora era cultivado um dos dois, ou talvez os dois ao mesmo tempo iriam matar. Então antes que isso acontecesse, ela partiu e ele sabendo de suas razões, respeitou. Preferiram viver apenas o lado bom daquele sentimento. Mesmo que sofressem para se separar, sofreriam muito mais se sufocassem até as boas lembranças que agora ficaram “... pode parecer controverso, mas sei que é o correto a ser feito. Saudades suas, irmã. Precisava de seu abraço. Com afeto, Himmel.