terça-feira, 19 de outubro de 2010

E a banda diz “assim é que se faz!”

Sexta-feira, 15 de outubro. Esta era a data em que tudo reverberava coisas boas, mesmo quando a faculdade fazia questão de ser uma pedra no meio do caminho. Depois de uma aula chatérrima pela manhã, tive prova de Filosofia pela tarde. Terminada a prova (que fiz em 30 minutos) sorridente, voltei para casa, pois até o motorista do ônibus parecia estar tendo um dia bom.

No fim da tarde eu chegava ao Centro de Convenções e ao pisar no estacionamento pude ouvir uma música conhecida vindo de lá de dentro, o Los Hermanos já estava ali passando o som. Do lado de fora aproximadamente 40 pessoas formavam uma fila muito torta, me sentei no chão e fui a última da fila por apenas um minuto. A fila crescia rápido, não apenas para trás, mas para os lados também e enquanto a fila chegava a um estágio em que era difícil ver o seu fim, eu encontrava vários amigos, as pessoas já puxavam as músicas, assim tudo ficava muito mais descontraído. Mesmo com gotas de chuva ameaçando cair, a animação não cessava.

Basicamente no horário marcado, nos encontrávamos dentro do pavilhão. Posição: eu, a grade e o palco; o palco, a grade e eu. Ainda faltavam horas pro início do show, horas que demoravam a passar, e o calor começava a incomodar. Vez por outra um gordinho muito engraçado corria de um lado para o outro ali na frente da gente com uma bandeja de pizza na mão, ou um saco com garrafinhas de água de 250ml (preço: 5 reais) que vendia em instantes. O público de quase 18 mil começava a lotar o espaço e já cantava em alto e bom tom. Eram momentos de adoração à música como aquele que eu esperava presenciar a noite inteira. Mas devido à demora excessiva, o público passou do canto à vaia. Foi o que a produção do evento mereceu devido à desorganização que resultou até em problemas no som no decorrer do show.

Ainda depois de muita espera e de muito calor, foi numa vibração inexplicavelmente muito boa que a banda subiu ao palco. Nem eles mesmos pareciam acreditar na quantidade de gente que se encontrava ali. E a noite foi oficialmente aberta ao som de O Vencedor. Infelizmente, meu leque de adjetivos apreciativos não é muito vasto, e, portanto, não terei como usar um a cada música do show, mesmo porque parece regra, o show todo é uma cena só: o público inteiro cantando a todas as músicas em unissono. “Vocês são sem palavras!” foi assim que nos descreveram.

Durante o show eu tentava ligar pra quem eu havia prometido, afinal, magia como aquela tinha que ser compartilhada com quem gostaria que estivesse lá conosco. Quem eu não conseguia ligar, simplesmente me lembrava com imenso carinho. Foi assim que passaram músicas como O Vento, Morena e Sentimental. Músicas que eu adoro, mas que não esperava que fossem tocadas como Pois É, Tá Bom e O Velho e o Moço foram ótimas surpresas, e trocadilhos como em Conversa de Botas Batidas (“deixa o Barba bater/que eu cansei da nossa fuga/já não vejo motivos...”) me fizeram rir.

Quando os primeiros pedidos por Pierrot surgiram, Camelo solta um “pronto, começou...” e ri. Uma menina que estava do meu lado ainda lembrou-se da mini-campanha que o Medina promoveu no blog dele a pedidos de seu filho Vicente e gritou “toca Hollywood!”, ao ouvir ele agradeceu com um sorriso.

Houve músicas em que dancei, em que pulei, músicas em que cantei com a alma. Eles também, brincavam, dançavam, sorriam e agradeciam. Se emocionavam... e nos emocionavam. Último Romance foi a última canção, antes do bis. Amarante e Camelo saíam do palco abraçados. Nós sentíamos êxtase. “Uh, Los Hermanos! Uh, Los Hermanos!” gritava o coro enquanto a banda voltava para o palco, e nos presenteava tocando Pierrot com a introdução de Vassourinhas. Estava definido o nosso carnaval particular. No fim da música eu gritava “Quem Sabe!” e era ajudada por alguém que estava pouco mais atrás de mim. Mas foi a introdução de Deixa o Verão que a gente ouviu. E foi bom demais! Foi uma das poucas música que vi o Barba, já que o palco era muito alto, mas ele tava lá, alegrão. A última música era previsível. “A Flor” falei pra minha prima, e segundos depois as primeiras notas eram tocadas, a nossa noite de alegria e festa chegava ao fim. “Pude então enfim amar... VAI” e de gargantas cantando juntas, a cena agora passava a ser de muitos rostos felizes.

Na saída, mais desorganização por parte da produção. Por incrível que pareça, a fila da saída tava maior de que a da entrada, aliás, não tinha fila pra sair e sim uma muvuca. “Isso aqui é a Rua da Concórdia depois do Galo!” gritava um cara. De fato, parecia fim de carnaval: todo mundo acabado, mas satisfeito, e se havia alguma tristeza, era por não ter durado mais.

Minhas lembranças físicas do show foram meus joelhos roxos e a garganta rouca que perdura até agora, quatro dias depois. Lembranças materiais, 2/3 do setlist e as poucas fotos menos tremidas que consegui tirar (disponíveis no flickr). Mas a melhor das lembranças é a que tenho quando leio as reviews e textos/impressões de quem lá estava, ou vejo vídeos, aquela sensação boa de lembrar que estava lá também e que juntamente a 18 mil pessoas compartilhei minha voz pra cantar com aqueles caras as músicas que tantas vezes cantei sozinha em casa.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Dois shows em um só

Ontem, assim que desliguei a televisão depois da transmissão do show do Kings of Leon, senti uma coisa mista dentro de mim que não sei se serei capaz de transmitir através deste texto. Na verdade o texto está sendo escrito pra Má, que está em Berlim, e nem pela tevê pôde assistir. Mesmo já os tendo visto este ano em Londres (clique aqui para ler no blog dela sobre o show), eu sei como doeu nela não ter ido neste show deles aqui no Brasil. Sei, porque assim como ela, eu não aguentava mais ler os tweets do Nathan dizendo que “o Brasil esteja preparado pra mim” ou contando como já estava bêbado em São Paulo – isso à tarde!

Foi uma semana difícil de aguentar por causa do pouco contato que tive com a Má e pelo SWU. Desde ontem acompanho pela tevê o Festival, e não me doeu ver o Los Hermanos porque os verei em quatro dias, mas me dói muito saber que não terei as meninas aqui comigo nesse dia. Enfim, não vou falar sobre isso agora, o foco de hoje é a transmissão do show do Kings.

Antes de tudo, preciso de um momento desabafo pra esclarecer o meu desafeto pela Luísa. Não tem jeito, ela sempre está nos shows que eu sofro porque gostaria de ir – vide 2007, Tim Festival, Arctic Monkeys, coisa de novela mexicana. Só que dessa vez ela exagerou! Além de estar lá ousou cometer gafe dizendo que a banda é toda em família, ok, são três irmãos, ok, e um primo, o Nathan... cri, cri, cri. Fail, Luísa. Tiveram que deixar ela improvisando porque o show atrasou e eu estava cada vez mais tensa com a hora, porque “a banda só autorizou que fossem transmitidos os primeiros 45 minutos do show” como a mesma disse. E assim começou minha obsessão pelo relógio, e consequentemente a nossa guerra: quanto mais o tempo passava, mais raiva/tristeza eu sentia.

A primeira música da noite foi Crawl, a mesma do show da Má em Londres. Minha memória me levou instantaneamente até aquela tarde em que eu ouvia pelo skype o show do Hyde Park, e fiquei pensativa e só cantei no refrão. Mas em alguns momentos como em Molly’s Chambers, a segunda do setlist, eu cantava sem pudores, como se estivesse lá e ninguém pudesse destacar minha voz dentre as demais – só que meus pais estavam aqui e devem ter pensado que eu estava louca. My Party foi a terceira música e eu podia ouvir perfeitamente a Má cantar o refrão “she saw my party, she saw my party”, era minha mente me levando até Londres mais uma vez. A quarta foi Be Somebody, peguei o celular e escrevi pra Nat “be somebody euri” e ri mesmo. Antes que Mary começasse, Caleb foi até o microfone e disse “obrigado”. A cada música ele parecia se soltar mais. Acabada Mary, mais uma vez ele se dirigiu ao público “it means the world for us” e alguém traz pra ele um copinho que ele vira em um único gole, devia ser cachaça.

A próxima música era Fans, fecho os olhos, e novamente estou no Hyde Park, ouço todos gritando “oh the London scene! Cause England’s Queen makes you love the tales I breathe.” Abro os olhos, e me lembro que é tudo dentro de uma tevê, até que Caleb joga uma palheta na platéia, palheta provavelmente semelhante à que em junho bateu na Má e se perdeu na multidão de pessoas. A sétima música foi Reverly, seguida de Closer. Wow, Closer. Não preciso descrever a cena de Matt tocando guitarra com a boca né. A câmera fechava no Jared e seu baixo por segundos, e eu sorria, lembrando da Sis. Em Four Kicks Nathan batia tão forte, que eu juro, eu podia sentir meu coração batendo no mesmo ritmo.

The Bucket merece um parágrafo só pra ela. Foi quase um tapa na cara essa música. Minha garganta deu um nó, não me deixando cantar nada. Só levantei os braços e fiz cara de choro, depois pus a mão embaixo do queixo e pensava “isto não pode estar acontecendo”. Dessa vez eu sabia que não demorava muito até que a transmissão terminasse porque foi assim no show de Londres: duas músicas depois dela o celular da Má descarregou e a partir de então eu e a Nat só imaginávamos o que se passava por lá.

“Do you guys mind if I have a drink?” Caleb mais uma vez interagia. Pra minha alegria, não foram transmitidas apenas duas músicas como eu esperava, mas sim três! As três últimas músicas da minha noite foram Notion – a melhor do Only by the Night –, Radioactive – o melhor solo do Come Around Sundown – e Sex on Fire – sinto vergonha da música, mas não tem como não achar arrepiante ver todo mundo ali cantando e pulando de braços abertos.

Minha atenção estava dividida entre a tevê e o grande vilão da noite, o relógio. Haviam passados os 45 minutos exigidos pela banda, e então resolvi desencanar de vez do relógio, deviam ter esquecido que eram só 45 minutos. Parece ironia, mas foi sério, foi só pensar isso que a câmera começou a se afastar do palco, até que outra fecha na Luísa, e é o que parecia ser o fim. Enquanto a Luísa falava eu me congratulava por não ter chorado, e tentava ouvir o que o Caleb falava para o público, até que ouvi a introdução da música que eles iam prosseguir tocando, “she said call me now baby, I’d come running”. On Call. Não deu pra segurar as três ou quatro lágrimas que jorraram dos meus olhos.

Acabou mesmo. Entrei no meu quarto com uma sensação estranha de ter vivido um déjà vu de 50 minutos. Foram dois shows diferentes, eu sei, mas nada tirava da minha cabeça que os dois tinham sido uma coisa só. Piii-piii, meu celular apita, mensagem da Nat, porque mais uma vez ficamos só imaginando como foi o resto do show.

Edit: Um postscript. Alguns dias depois, lendo as críticas, fiquei sabendo do que não deu pra perceber enquanto eu assistia pela televisão (primeiro por causa do meu estado emocional, segundo porque, ora, era na televisão). Noventa porcento daquele público não merecia estar ali, e depois a banda levou a culpa de ter feito um show 'morno'. Ah! O que escrevi aqui mostra que esse show poderia ter sido tão bom quanto o do Hyde Park, e - eu vou ser egoísta - ainda bem que não foi, assim a Má - e consequentemente eu e a Nat, afinal de alguma forma nós estávamos juntas ali - não perdeu muita coisa. Então, só pra corrigir, o show do SWU apenas me remeteu ao do Hyde Park, porém, este último foi, para nós, único.